segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lúcido

Fui chamado de louco semana passada.

E me chamam de louco pelo meu silêncio, pelo meu raciocínio e no final, disseram "eu gostaria de ser você."

Acenei e fui embora.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Altruism 5

Eu penso numa nuvem negra que vai se aproximando aos poucos do prédio... e trago mais uma vez esse meu cigarro quase no fim... Quem dirá o que vai acontecer no dia? Mais uma vez nesse quarto vermelho de hotel, vendo essa chuva chegando e um dia mais longo, mais longo que o de ontem, naquele escritório.
Nunca entendi, mesmo, o motivo imbecil que levou meu pai estúpido a me colocar numa empresa dessas. Merda na cabeça, acho. Velho estúpido... acredita que uma vez achei o velho desenhando triângulos com pó... PÓ! Cocaína, porra, não pode? Sério? Mas a entrevista é minha e... Tudo bem. Pegar leve como? Como? Ah, assim? Seguinte... Eu vou gravar do jeito que eu bem entender, e foda-se. É, FODA-SE. Obrigado... Continuemos:

Nunca entendi mesmo, o motivo imbecil... Ah, vocês lembram. Pois é, peguei o velho cheirando pó. Vê só. Cocaína. Pura, e acho até que era daquelas loucuras colombianas que meu pai fazia quando era solteiro... nunca entendi por que raios ele nunca deu uma overdose... Enfim. Pai viciado em entorpecentes, mãe viciada em anfetamina e jogos de azar... numa dessas, quase perdeu a porra da casa. E o motivo? Não tinha mais o que apostar, e ninguém, repito, NINGUÉM naquela maldita sala tinha vontade, a mínima vontade de comê-la bem ali. Possessa, querendo ser comida por mais uma rodada, MAIS UMA RODADA DE POKER! Eu não tenho palavras. Tenho palavras. Enfim.
Mas a causa disso tudo é que hoje eu tenho que trabalhar. Trabalhar nessa maldita empresa que não vende nada a séculos e por algum motivo que eu desconheço, ainda está no mercado. E eu tenho que ir pra um maldito escritório só porque eu sou a filha rebelde do milionário estupidamente drogado... Esse mundo só me fode.
Um banho rápido antes de ir ao escritório... Talvez a água esteja quente o suficiente pra não me deixar sair desse hotel. Um hotel... Acho que todo esse dinheiro vem de negócios obscuros que meu pai ainda sustenta... Mas é dinheiro. É muito dinheiro mesmo. Acho que me fazer trabalhar na empresa dele é... lavagem de dinheiro... mas como poderia ser? Eu devia saber mais sobre esses assuntos... Ah, água esquentou demais. Acho que queimei a pele... foda-se. Mais um cigarro, whisky talvez... é.
E acho que estou ficando velha. Realmente velha. Assim, velha mesmo. Dessas que ninguém dá nada na rua, vê passar e grita "foda-se, sua velha". Não sinto mais o tesão de viver, não quero mais sair com ninguém... acho até que minha pele está mais maltratada do que de costume. Foda-se. Vou morrer uma velha solitária, frígida, com sete gatos infernais que estarão de prontidão para engolir meus ossos... um por um.
Preciso ir.

nada demais no escritório. Eu preciso parar de fumar, mas não vou. Foda-se. Tá me destruindo, foda-se. Foda-se tudo. E ai de quem me vier falar qualquer coisa hoje, eu vou estourar e vou ameaçá-lo de morte....

- Bom dia, senhora.
- Bom dia... bom dia... - No meu pior dia... No meu pior dia esse infeliz me deseja um bom dia. Inferno.
- Até.

O estranho que veio falar comigo... Esquisito isso. Melhor eu ir trabalhar, melhor ir me situar com as coisas... mas ele veio falar comigo.
Ele veio falar comigo.
Meu dia não está mais tão ruim assim.
Na verdade, estou bem feliz!
:D

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Altruism 4

Quase seis, quase hora de ir embora desse escritório que fede a gente velha... Eu sou nova demais pra isso aqui. Putz, olha só o jeito que o cara da frente finaliza os relatórios diários... Quase não enxerga a tela do computador e esse povo da admissão que só faz merda... Nunca entendi o motivo pelo qual eles contratam esses caras de cinquenta anos em vez de pessoas bonitas, jovens e decentes de vinte. Acho que é experiência, tempo de trabalho... sei lá. Mas é um grande erro, a meu ver.
Hoje de manhã acordei puta de raiva, mas com uma chuva deliciosa batendo na janela. Coloquei um Supertramp pra tocar e vi se ainda tinha alguma erv... opa. Pode falar disso? Ah, pode? Ah tá...hihih. sou meio tímida, sabe? Mas enfim... Vi se ainda tinha alguma erva e seda, e aí fui bolar um pra alegrar meu dia...sabe? Pois é. Quem diria, hein? Logo eu, com esse corpinho jovem e esses olhos claros encantadores... Difícil de acreditar, mas eu gosto. Gosto muito.
Felizmente tinha alguma erva. Tinha seda... Tinha Supertramp no som e ainda faltavam confortáveis duas horas até que eu precisasse me dirigir até um prédio sujo no meio da cidade pra trabalhar. Trabalhar. Acho que esse é meu maior problema ultimamente. Posso acender um cigarro? Ah, tudo bem.
Na hora do almoço... Vou até o Burger King mais próximo e... olha... aquele cara que contrataram também vai. Acho que ele nota a minha presença, mas prefere ficar com aquele fone de ouvido ridículo, azul, vê se pode, no ouvido. É uma pequena caminhada de... dez minutos, creio eu. Vale a pena, porque ele apenas pede qualquer sanduíche, senta ali e fica olhando pro nada, pensando na vida como se tivesse acabado de acordar. Acho que ele fuma um também... Mas seria sonhar demais. Mas será? Acho que vou tentar algum dia.
A garagem desse prédio é o lugar mais ermo, sombrio, escuro, desabitado e sem vida que eu conheço. Tenho até certo medo de andar por lá quando acaba o expediente, então eu prefiro tomar o metrô, que apesar de ser a meia hora de caminhada, é mais seguro... eu vejo mais gente, sabe? Eu vejo o movimento frenético da cidade, vejo as coisas passando... É quase poético. Melhor seria se todos os dias fossem recheados de chuva como esse, que aí eu simplesmente não saberia como reagir na hora de ir embora. Mágico.
Minha playlist diária tá arrumada... E então é hora de contatar alguns clientes e negociar produtos que eu nunca vi, nem comi, só ouço falar. (risada) Viu? Zeca Pagodinho... que inclusive também tá na minha playlist, só que acho que duas ou três músicas, só.
Ah, tem uma área pra fumantes... Tem uma área pra fumantes no andar de cima. Acho que vou lá, vai que alguém tá lá na sala do café... E olha que surpresa: Esse cara tem cigarros, e provavelmente... aliás, acho que não. Tem cara de gente politicamente correta... que não dá uma bela de uma trepada a mais de um ano. Olha só a cara do infeliz, triste e pensativo.... como eu gostaria de estar. A solidão é foda, vai entender... Eu vivo sozinha numa kit ali na parte da cidade onde as mamães não deixam seus filhinhos irem... pois é. Complicado. E se esse cara for um gênio em potencial, só esperando pra mandar todos os prédios abaixo? Nossa... O jeito que ele coloca o cigarro na boca é esquisito... segura o cigarro como quem segura uma caneta. Bizarro. Mesmo. Eu até pediria um cigarro pra ele, mas ele é desses caras chatos que não dividem cigarros com ninguém... Será que se eu convidá-lo pra apreciar diferentes tipos de tabaco ele aceitaria? Acho que não, tô viajando demais... Acho que ele notou que eu passo horas em frente à cafeteira, mas acho que ele não vai perceber se eu demorar um pouco mais. E se ele percebeu e tá me chamando de maluca? Quer saber? Não vou pedir cigarro nenhum, vou embora.
E no meio desse corredor com poucas pessoas, vou pensando na hora de chegar em casa, na hora de ver um filme qualquer e chorar sozinha porque eu realmente estou sozinha, atolada de dívidas e com pouca vodka na geladeira... Aliás, acho que na minha geladeira só tem vodka e manteiga. Puta que pariu, como meu dinheiro some. Ah, quer saber? Vou voltar e pedir um cigarro.

- Tem um cigarro pra me arrumar?
- Sim.
- Obrigada. Posso?

Acho que ele ficou puto com esse lance do isqueiro... Mas vai saber, né?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Altruism 3

Sinto uma vontade maior que o normal de me expressar. Levanto todos os dias com as idéias na cabeça, e me contento com o fato delas simplesmente sumirem ao longo do dia... Então corro mais uma vez para o meu ambiente de trabalho, que é um dos lugares que mais gosto nessa cidade. Eu gosto de cidades, e talvez seja por isso que eu esteja enlouquecendo. Vou ao ponto de ônibus...eu ia ao ponto de ônibus. Nessa chuva é impossível. Um cigarro, música talvez, as sete e quarenta e três da manhã... Acho que nenhum dos vizinhos vai reclamar. É, eles não vão.

- Alô.
- Bom dia, cara... Você pode passar aqui em casa no caminho pro trabalho?
- Sim. Mas ainda vai levar uns vinte minutos.
- Então...

E aí eu desligo. Simplesmente desligo e as coisas estão mais acertadas que nunca. Olho novamente ao relógio, e as horas parecem não passar... Talvez dê tempo de um sanduíche mais bem preparado, talvez minha carona seja louca o suficiente pra não ir trabalhar nessa chuva... Talvez o dia dê certo, afinal. Mas aí seria sonhar demais, vou preparar meu sanduíche e me preparar pra mais um dia estranho de trabalho. Eu gosto.
A recepcionista fez um corte de cabelo novo, olha só... Ficou bonita...bonita... tão bonita que eu que sou eu notei a presença dela, acho que em vários anos de trabalho. Agora consigo notar claramente a combinação que ela sempre tentou fazer com os olhos e o cabelo... Hm. Ficou realmente muito bonito mesmo, acho até que vou mandar um e-mail ou algo assim... Será que ela é solteira? Melhor não perguntar tão diretamente...Ela pode desconfiar.
Bom dia, mesa. Bom dia telefone, bom dia papelada diária... E acho que hoje o dia tem que ser duplamente produtivo, mas acho difícil. O chefe mandou colocar essa cafeteira nova que faz mais de cinco tipos de café.... adiciona chocolate, caramelo, açúcar e mais o que você quiser. Acho que hoje as pessoas vão se preocupar mais com o café e com as conversas do que com o trabalho em si... E quem é essa menina nova? Linda. Perfeita, e... com toda a certeza eu não sou o único olhando-a por cima das divisórias das mesas... Olha só: Acho que o novato daquela mesa ali da frente também se interessou... E essa mulher esquisita da mesa ao lado. Acho que ela tem um pouco de nojo de mim, mas não ligo tanto. Ela tem cheiro de noite, de orgia, de longas noites de bebedeiras e expressões físicas de carência... Mais o cigarro. Será que ela fuma? Vou fumar um cigarro.
E na sala do café as pessoas continuam com os mesmos assuntos de sempre. Acho que nunca vão falar nada que preste aqui, mas olha só, tão comentando o jogo de ontem. Foda-se. Me interessei mesmo pela menina nova, será que ela tem olhos pra mim? Não sei... Mas olha só o jeito que essa mulher coloca o café. Ela é louca, só pode ser louca. Acho que as noites em excesso acabaram prejudicando o cérebro da mulher... que já não funcionava tão bem como imaginamos. Coxas grossas... Eu não tinha visto. Acho até que já tinha, mas só não lembro por algum motivo estranho dessa vida. Acabou meu café, vou voltar para a mesa.
Esqueci de fumar meu cigarro, vou voltar. Foda-se.

E já no meio daquele pirulito de fumaça, eis que uma loira fenomenal aparece na porta da varanda da sala do café, olha nos meus olhos e diz:

- Tem um cigarro pra me arrumar?
- Sim.
- Obrigada. Posso?

Seria ótimo se todos tivessem isqueiro. Mas não dessa vez. Um dos motivos pelos quais comecei com esse vício é exatamente esse. Ninguém nunca tem cigarro, nem isqueiro, nem histórias interessantes o suficiente para se contar durante um cigarro. Mas eu gosto do mesmo jeito, porque a vida é feita de pequenos pedaços de um todo. Eu ficaria extremamente feliz se essa mulher saísse dessa varanda com o meu telefone, ou e-mail, pelo menos.

- Chuva forte, né? - Ela dizia.
- Sim. Você é de qual setor?
- Trabalho aqui no andar de baixo.
- Ah sim.

E a nossa conversa não evoluiu. Pelo menos eu descobri que ela trabalhava no andar logo em baixo do meu, que tem essa compulsão maluca por nicotina e cafeína, que não dorme faz alguns dias e que é muito, muito gostosa. Tem uns caras aqui na empresa que esbarram em mim de propósito, só pode ser.

Preciso voltar ao trabalho. Preciso começar o trabalho.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Altruism 2

E que baixem-se as cortinas, e que fechem-se os portões, porque uma nova temporada de caça começou, e eu aqui dentro desse teatro que é esse ambiente de trabalho... Já não gosto do prédio, não gosto das cores das paredes, não gosto desse moço que fica atendendo telefone... Não gosto. As coisas deveriam ser feitas como se faziam damas e filmes, a muito tempo atrás, quando minha falecida avó ainda paquerava os coroinhas da cidade. E olha onde eu vim parar... Num prédio que eu não gosto no centro da cidade... Inferno.
E mais uma vez o expediente vai acabando... ai essa mulherzinha nova que contrataram. Vulgar. Não... eu não diria vulgar, diria que é bem certinha até... sabe se portar como moça e trabalha direito...deve ser moça de família, apesar desse aspecto meio vagabunda do chefe... E se ela virar a vagabunda do chefe? Ai de mim.
Nesse setor... Só quem importa mesmo é esse menino novo que entrou agora também... e que fica o tempo todo olhando pra essa outra menina nova...novinhos os dois... Acho que talvez eu poderia ser uma espécie de mãe... não! Não. Apenas não... São muito novos, muito jovens... acho que eu traumatizaria as crianças. Mas eu nunca descarto possibilidades.
Na sala do café, as mesmas caras de sempre, com os mesmos discursos de sempre... falando qualquer coisa pra qualquer pessoa ouvir... e aí as coisas saem simplesmente de um jeito cru, assim como todos os envolvidos nessas conversas fúteis de escritório. Ah, ele. O sujeito... Esse terno cinza, risca de giz... achei até que não fosse voltar para a filial depois das férias... Mas olha só que safado... Todo bronzeado... deve ter viajado com a família e esquecido quem realmente alivia as tensões do maridão quando as coisas apertam... E aí eu acho que ele deve lembrar de mim. Acenou, que gentil... Espero que tenha uma boa temporada no trabalho... Bem, preciso voltar... Alguns acenos no corredor, algumas mãos para apertar... E olha só como esse cara da contabilidade tá maltratado...gente... acho que não dorme. Mas... por que será que não? Deve ser só mais um desses da contabilidade que fica até mais tarde pesquisando coisas na internet... ou será que é casado? Solteiro? hm... e até que não é de mal grado... Pernas no lugar... um olhar meio descompromissado... Não! De novo... preciso realmente me concentrar no trabalho novo.
Detesto quando a matriz não atende os meus pedidos. Eu só queria uma mesa... Em outro lugar. Esse cara do lado... esse aí,ó... Eu...Tenho medo.

Altruism 1

Simplesmente ela entra pela porta, arruma os cabelos minuciosamente penteados novamente, levanta os olhos e abre um sorriso. "Bom dia", a voz reverbera pelas paredes, pelo escritório, e então ela pendura as coisas no local de trabalho, aquele mesmo casaco azul que usava todas as vezes que o mundo resolvia devolver nossas lágrimas com longas temporadas de chuva... E então ela começa a arrumar as coisas na mesa do escritório... Começando pela foto do casal. Nunca imaginei que poderia existir um casal na vida dela... Talvez amigos? Tios? Parentes? A neve no fundo da foto não me é reveladora... Nunca perguntei quem são os dois na foto, e acho que nunca perguntarei. Hoje, incrivelmente ela demorou um pouco mais para ligar o computador, checar aquelas correspondências que miraculosamente chegam até a mesa dela... Olhou para fora durante uns instantes e tornou a olhar para as correspondências. Está um lindo dia hoje, acho que eu devo me mover até a cozinha, só pra passar pela mesa dela e dizer um "olá" meio perdido, daqueles que tem todas as intenções do mundo, mesmo se passando por um simples "olá". Acho que ela vai perceber, mas não ligo.
Me levanto vagarosamente... e por algum motivo que desconheço, torno a me sentar na mesma cadeira de alguns segundos atrás, e meus olhos movem-se afim de devorar o corpo que está dentro daquele vestidinho azul... E então ela se senta, checa a linha de telefone e começa alguma coisa no computador... Nunca soube exatamente o que ela checa com tanta frequência, mas eu faria de tudo para ter acesso ao mesmo conteúdo, só pra comentar qualquer coisa trivial durante as idas à sala do café... Simples. Eu diria que é até simples, seguro, direto e sem segundas intenções... Mas eu posso enviar um e-mail. Na verdade eu sempre pude, mas acho que nunca o fiz justamente por medo de não saber o que falar. Eu tenho medo, eu admito. Não sei como lidar com mulheres, não sei como lidar com o contato com o sexo feminino, mas eu tento e tento com o maior empenho que se pode ver em alguém... Mentira. Eu não faço esse tipo de coisa, eu sempre fui um puta fracassado que não sabe lidar com mulheres. Preciso trabalhar.
Na hora do almoço ela simplesmente levanta-se e sai. Durante a caminhada até a porta principal, me olha com um olhar de piedade, ou de curiosidade, admiração... Não sei. Ela me olha e pergunta se eu quero almoçar em algum lugar, e eu simplesmente respondo que não, esperando que ela me convide novamente para um almoço ou para qualquer coisa que for, em data diferente, desde que estejamos a sós e desde que ninguém desse maldito escritório nos perturbe por horas e horas a fio... E aí eu lembro que meu almoço dura apenas vinte minutos, e que eu almoço no mesmo Burger King de todos os dias.
- Um Whopper, por favor.
- Qual, senhor?
- Qualquer um.

E o meu almoço de cada dia torna-se cada vez mais empolgante. Ainda na mesa do almoço, pego-me pensando nos poucos olhares em que ela me lança, e os vários olhares que eu direciono àquele corpo branco. Branco, apenas. Não sei descrevê-la com total precisão, mas juro que tento assim que eu tiver uma melhor oportunidade para tal... Aqueles olhos claros e as pernas não tão grossas e não tão finas... Espero que ela sempre use aquele mesmo vestido azul que vem usando de uns dias pra cá... Eles são simplesmente demais.
A tarde cai e um silêncio aterrador vaga pelos corredores e salas desse ambiente. Ela continua ali, perdida talvez em seus pensamentos tão aleatoriamente organizados. Talvez esse seja o motivo pelo qual ela mantém todas as coisas ridiculamente organizadas na mesa, e deve ser por isso que nenhum desses caras nunca tentou. Digo... Como me aproximar de alguém que pronuncia poucas palavras durante o dia? Acho que ela nada nos oferece além desses olhares perdidos de vez em quando e dessas pernas que desfilam e atraem os olhares todas as vezes que caminha até a foto-copiadora. Eu queria navegar por entre aquele par de coxas... Mas vai demorar muito, muito tempo. Ouso dizer que tal fato nunca, nunca acontecerá...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

The Dwarf and the horse

O dia amanheceu num misto de felicidade e melancolia, ironicamente refletidos nos vidros da janela do quarto, que foi por onde olhei a névoa cinza e as nuvens cheias que passeavam pelo céu. Sorri um sorriso esquisito, meio que incrédulo... Mas ainda satisfeito por tudo que o dia teria a oferecer, mesmo que não fosse de tão grandioso... Me preparei um café e sentei aqui, a ouvir minhas músicas e a ler os velhos textos de sempre, velhas cartas, poucas vozes e uma batida contínua que é a única que consegue me embalar, e já faz tempo que procuro por novos horizontes.
Ouvi novamente aquela música que marcou um término, um novo começo e uma nova experiência... Várias sensações que se findam num único lugar, onde nada, absolutamente nada acontece, e nada me impressiona.
Os beijos, as carícias e a chuva. Admito que pensei em tudo isso durante os passados dias, mas sem me apegar à minha vontade intrínseca de continuar as coisas como elas deveriam continuar... E subitamente me encontro num estado de espírito onde as coisas podem apenas existir, ou não existir... Podem permanecer completas ou incompletas... Nada disso me abala mais, e digo isso com um meio-sorriso no rosto.

Me despeço de um tempo em que amores me abalavam, e me despeço de um tempo em que a solidão foi, por muito tempo, a salvação de todos os meus pecados e a explicação de meus atos impensados. E saí de casa com um guarda chuvas nas mãos, com os mesmos velhos materiais na mochila e desejando fortemente uma xícara de café e um cigarro de palha, desses que sempre me acolhem nos momentos mais críticos de uma existência quase nula.
As pessoas na cidade parecem todas iguais, sempre mergulhadas em seus pensamentos esquisitos sobre coisas esquisitas, mas quem sou eu para julgá-las quanto a isso? Cato um desses de palha e acendo, tragando mais uma vez vários desses pensamentos aleatórios que permeiam minha cabeça e expelindo-os com a mesma naturalidade em que vejo as formas quase psicodélicas que a fumaça desenha no ar... Tomo aquele mesmo ônibus, radicalmente na mesma hora.

Algumas mensagens no celular, e eu nem sorrio e nem choro por dentro, apenas respondo-as com uma simplicidade que eu mesmo desconhecia, e então me dirijo para um local previamente estabelecido e encontro-a, uma velha amiga de velhos tempos atrás, com a qual me atraquei durante alguns dias. Sorrio, e olho para ela com o mesmo sorriso de tempos atrás. E começamos uma caminhada até um dia cinza, que o destino com certeza escreveu em suas linhas certas, que insisto em rabiscar.

E eis que as coisas não tomaram nem um rumo diferente, nem um rumo trágico, nem feliz... As coisas simplesmente continuaram como estavam. Olhamo-nos nos olhos e... e não dissemos nada. Foi uma daquelas despedidas que sempre fizemos, e sempre faremos... Não pelo excesso de sentimentos, ou de expectativas, mas pela natureza simples de nossos atos e palavras. E eu me despedi, ela se despediu, e o céu nos saudava com seu jeito cinza, porém acolhedor. Algumas gotas começaram a cair, e eu novamente acendi um cigarro e fui até um local apropriado para uma xícara de café.

E eis que encontro por entre as árvores, outra daquelas pessoas em que afogo minhas mágoas temporariamente. Um dia estranho que ainda não se findou, apesar das poucas horas de sono e da transição entre os dias e as noites que marcam um período contínuo e silencioso dessa minha vida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Roll us a giant

E retorno mais uma vez ao ponto inicial, onde eu vivo apenas para mim e para aquilo que me interessa, não mais pensando nela ou em qualquer outra que um dia derramou vagarosamente doses de sentimentos e palavras caridosas numa xícara branca e me entregou. Não me imagino mais engolindo cada gota daquele sentimento e daquele café fumegante. Não consigo mais escrever as mesmas palavras pesadas e sem sentido de antes, não me exalto, não ouço e não faço mais questão de ser ouvido... E assim as coisas começam.
Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia. Troquei os móveis de lugar na esperança de não mais encontrar qualquer vestígio de saudades ou de presença... Eu não sei mais o que pensar nem o que ouvir, e numa tentativa de fuga (mal-sucedida, diga-se de passagem) deixei mais uma vez a casa que me acolheu durante muito tempo, em busca de qualquer coisa que fosse, que me deixasse mais uma vez encantado.

Eu não lembro da última vez que me declarei, nem lembro da última vez em que ouvi uma declaração. Me preocupo mais com as tardes frias e nubladas, com algumas gotas de chuva na varanda... Não desejo mais a agitação das cidades e nem os sorrisos anônimos que cruzam os ambientes à procura de uma boca, suspiros, aventuras que duram eternamente enquanto a noite não acaba, e findam-se num trocar de números falsos de telefone. Eu não ouço mais as mesmas músicas.
Eu não pronuncio muitas palavras, eu não absorvo muitas palavras.
Vivo hoje com certa tranquilidade apesar de saber que nessa busca incansável pela felicidade, ela já me saudou e se despediu de mim com a mesma frequência em que eu respiro. Não me importo, apenas continuo caminhando lenta e dolorosamente para uma busca de paz interior, e quando encontro-a, tudo se transforma num caos produzido por mim mesmo... E aí eu descubro que eu não faço mais sentido.
Mas eu faço todo sentido.

Ultimamente venho pensando somente em uma pessoa, aquela pessoa de poucas palavras e olhar perdido... Mas não me importo se vamos nos unir ou não. Eu já não sorrio, já não choro, e isso me basta para que as coisas continuem acontecendo como sempre aconteceram.
Eu não tô triste, nem feliz, eu tenho alguns bons e velhos amigos que entendem (ou pelo menos deviam entender) tudo que se passa.

Admito que passo a maioria desses novos dias chuvosos pensando apenas nela, e na fumaça, e nas cervejas, nas poucas palavras e no "me chama pra tua cama". Esboço um sorriso e trago mais uma vez a fumaça... Eu já não me importo mais comigo, mesmo me importando excessivamente com uma sanidade mental que há tempos não existe mais em mim.
Eu estou perdidamente situado em mim mesmo, e nas gotas de chuva que agora batem na minha janela.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Um aviso.

Eu não levo comentários mal-escritos e imbecis(de quem acha que sabe da minha vida) a sério.
1bjo.

;D

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Irony

Significado do nome Yanky - Sua marca no mundo!
RESERVADA,EQUILÍBRIO,CONFIABILIDADE,PERSPICÁCIA,ESPÍRITO ANALÍTICO
Passa a impressão de uma pessoa muito inteligente e intuitiva, desde muito cedo é notória sua vocação por atividades intelectuais. Não se atrai por atividades desgastantes e de esforço fisico. Na maturidade demonstra ter a vida sob controle. Alguém que valoriza a espiritualidade. Sempre envolvida com seus pensamentos pode passar a impressão de solitária. Séria, não aceita intimidades ou brincadeiras inoportunas. Bastente reservada, torna-se dificil ter sua confiança, e guarda seus segredos sempre para si. Não se familiariza com encontros sociais, prefere sempre atividades que exijam concentração. Fala pouco, e evita comentários óbvios, nunca age com a intenção de impressionar, por isso só participa de conversas quando está embasada de sua observação e cuidadosa analise. Preocupa-se com o conteúdo e nunca com a forma. Esta postura tende a isola-la do mundo, pois dificilmente confia na ajuda de alguém, a maneira de ser bem compreendido e aproveitar os aspectos positivos da vida.




Quase acreditei.

sábado, 27 de agosto de 2011

Uma paixão.

E como se já não bastasse, ela ainda enumerava para o rapaz desgastado todas aquelas atividades que praticaria no dia seguinte, no mês seguinte, nas próxima horas... Em todos os locais e horários que ele não poderia estar. Ele se sentia triste, magoado, um lixo de ser humano, mas paradoxalmente ainda nutria sentimentos doentios por ela, que dizia vez ou outra que o amava, porém com a mesma entonação de quem diz que não gosta de creme de milho.
Ele aceitava, ele sorria sorrisos sinceros e ela sorria sorrisos vazios.

A distância destrói.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Violetas velhas sem um colibri.

Mais um almoço de família em casa, e mais uma vez aquelas velhas pessoas do trabalho dos pais do garoto vinham e serviam-lhe com palavras e admiração. "Parabéns", "Continue assim" e mais um emaranhado de palavras soltas confortavam o ego do rapaz novo, de olhos vívidos e uma cabeça que enfervecia com ideias absurdas e planos impossíveis. Era a juventude que saía pelos poros, e era um novo começo nessa vida cheia de começos e finais, mas não para ele. No meio de toda aquela alegria, do canto de todos os presentes e daquela mulher que lançava-lhe um olhar do outro lado da cozinha, enquanto abria o vinho e colocava-o lentamente na taça, meio que tentando comunicação com o rapaz.
Os olhos castanhos, o vermelho do batom que desenhava suavemente os lábios não muito desgastados da mulher, um corpo que o rapaz jamais vira em outras meninas da mesma idade por aí. Talvez fosse apenas um desejo passageiro, talvez fosse algo forte, mas não tão forte quanto a rigidez que ele escondia dentro das calças enquanto vislumbrava os lábios tocando a taça, a taça derramando o líquido na boca úmida da mulher. Ela dava mais um gole, olhava para o líquido novamente e ficava ali sozinha saboreando o líquido enquanto todos os outros aproveitavam a festa de maneira pomposa. Estranhamente pomposa.
A noite caía, as pessoas caíam, ela ainda estava lá. O rapaz olhava para o corpo não tão perfeito, mas perfeitamente palpável para uma mulher de... quase cinquenta anos. Os cabelos loiros, com alguns pequenos fios brancos, convidavam-no a afagá-los, bagunçá-los e sentir a textura sedosa enquanto os dois se aventuravam em si. Mas era só um desejo que, a partir dali poderia se esvair com a mesma facilidade que folhas secas esvoaçam com leves brisas no verão.
E então ele subiu para o quarto, para deitar-se na cama e ouvir velhas músicas, pensar um pouco na nova etapa da vida, nos colegas que faria na nova faculdade, nas meninas, nas bebedeiras, nas névoas de fumaça que seriam confeccionadas dentro daquelas quatro paredes do quarto. Ele ouve os passos lentos de alguém e olha para a fresta da porta. Uma sombra impede que a luz do corredor entre no quarto escuro, e agora ele não pode ver mais nada.
Um cheiro familiar de álcool invade as narinas do rapaz, que olha rapidamente e reconhece os olhos fundos da mulher. Os mesmos cabelos loiros, os lábios úmidos e o batom levemente borrado na boca davam uma sensação de bem estar ao rapaz. Ela sorriu, não disse nada e fechou a porta atrás de si.
O vestido não estava firme no corpo. Batimentos cardíacos aceleravam, os olhos dela encontravam os olhos dele, ela já não falava mais palavras certas, nem palavras erradas, nem conseguia construir uma frase completa, mas ela sabia exatamente aonde estava a braguilha da calça dele. Olhou nos olhos enquanto descia vagarosamente o zíper da calça e colocou um dedo na frente dos lábios, acenando para que o rapaz fizesse silêncio.
A aliança na mão esquerda, mesma mão que a mulher usava para acariciar levemente o membro semi-rijo que se escondia dentro das calças dele. Ele olhava os olhos apreensivos dela, a língua passando por cima do batom, dos lábios convidativos daquela mulher ajoelhada na beira da cama e sem muita consciência dos atos. O telefone dela começa a vibrar no tapete, ela parece nem dar ouvidos e continua com aquele jogo.
E subitamente ele se lembrou de quem realmente era aquela mulher. As mesmas mãos que agora proporcionavam prazer, foram aquelas que ensinaram as primeiras letras, os primeiros números, os primeiros passos. Estranhamente ele entendeu o que eram aqueles olhares no meio das aulas, os suspiros, as decepções quando ele não obtinha resultados satisfatórios. Aquela mulher estava viva a quase cinquenta anos, e ele tinha apenas dezessete. Mas, apesar da ironia e de todo o peso na consciência, ele preferiu entregar-se ao beijo que ela oferecia. Passaram alguns minutos ali, se beijando, o batom desenhando as curvas no rosto do rapaz, as mãos dentro da calça dele, alguns gemidos e o gosto do vinho presente no beijo dos dois.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os dois.

A noite escura da praça era convidativa, chamativa e mais uma série de adjetivos que não se pode dizer por aí sem antes estar num estado de embriaguez onde palavras e sinceridade são sinônimos. E é até engraçado, porque naquela altura da noite as mãos dadas eram como um elo entre a vida e a morte, as idéias insanas de um jovem louco e as idéias insanas de uma menina transparente. Os sorrisos se sintonizavam, a grama da praça brilhava com o toque leve do orvalho. A madrugada tornava-se dia, e os dois andavam de mãos dadas.
Ele com as pupilas dilatadas e um sorriso idiota no rosto, ela com o corpo frio e com a mente funcionando a mil por hora, pensando em declarações e circunstâncias, na insanidade que nunca havia experimentado antes.
E pararam ali no banco na frente da igreja. Ele olhava atento a tudo que acontecia em volta, mesmo que nada estivesse acontecendo e puxou mais um daqueles cigarros que costuma fumar quando ninguém vê. Ela apenas observa-o em seu comportamento subversivo, e imagina o que seria dele se ela não estivesse ali. Ele traga, prende, solta a fumaça para cima e pergunta calmamente à menina: "O que seria de você se eu não estivesse aqui?"

Ambos riem. A madrugada torna-se cada vez mais silenciosa e os dois sentam-se um ao lado do outro no banco na frente da igreja. Dividem uma maçã e pensamentos que não costumam dividir um com o outro. Ela diz que não acredita em Deus, ela cita músicas, livros e conceitos em que acredita. Ela olha para as pupilas dilatadas do rapaz e se pergunta se ele está identificando a voz dela. Ele dá mais uma tragada naquele cigarro e corresponde todos os pensamentos, medos, idéias e heresias que vem dela. Ela sorri. Ele sorri um sorriso encantadoramente medonho e então ela dá mais uma mordida na maçã e oferece à ele.
Ele então aceita, e tira da mochila surrada uma garrafa d'água. Ele abre e dá mais uns goles, mas prefere deixar que ela beba daquela água que ele pegou numa nascente há muitos quilômetros dali... Ela dá goles generosos e sorri novamente um sorriso de gratidão.
Ele então pega a carteira perdida dentro da mochila e tira de dentro dela mais um daqueles papéis que acompanhavam-no aonde quer que fosse. Ela olha tudo aquilo e se pergunta se seria aquilo genialidade ou mais um ato de insanidade. Ela olha atentamente a figura do rapaz levando mais uma vez um daqueles papéis à boca. Os olhos brilhavam, a madrugada se despedia dos dois, e ele olhou atento aos olhos claros e cabelo loiro da menina. Os tênis iguais, os casacos iguais, as idéias iguais, os estilos de vida tão diferentemente geniais e mais alguns goles da garrafa d'água embalaram o resto de noite das duas figuras tão ironicamente completas que partilhavam do silêncio na frente de uma igreja. Instituição que não passava de uma construção como outra qualquer, mas que tinha tanto impacto sobre a sociedade. E os dois não entendiam isso, mas preferiam se preocupar com outras coisas.

Ele então começa a falar sobre meditação, natureza, psicologia, música e sobre os sentimentos estranhos de amor e de felicidade que começara a sentir a horas atrás. Recitava poemas sobre o universo, o sol, as plantas, olhava no fundo dos olhos claros da menina e sorria. Simplesmente sorria e continuava cantando essa velha canção que, no fundo, os dois conheciam e sabiam de cor.
Ela falava sobre números, livros, sobre aventuras, ela arrumava os óculos no rosto, ela dizia que não precisava disso, ele não dava ouvidos... Ele só queria estar com ela.
No fundo, Ela só queria estar com ele.

E quando o sol já nascia, ambos falavam sobre equilíbrio. Ela com os olhos claros e serenos como o novo dia que nascia, ele com os olhos negros como a noite que passara. Ela dizia coisa sobre o amor, ele dizia coisas sobre o equilíbrio, dava mais algumas tragadas naquele cigarro que preparou manualmente horas atrás... Ela sorria um sorriso de compaixão, Ele sorria um sorriso de sinceridade e os dois beijavam-se como se aquele beijo fosse a chave para um paraíso particular, onde os dois seriam apenas dois.

Ele olha aquela tatuagem dela, que forma um X no pulso. Ela olha os olhos negros dele, que brilham refletindo a luz do sol.

Ela era o dia, Ele era a noite. Eles se abraçam, eles se completam, eles caminham pela manhã como dois universos se tornando apenas um.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Como cozinhar um pássaro.

“ Eu não te amo mais.”

Como assim você não me ama mais? Eu que sou uma namorada tão prestativa, tão sentimental, tão dedicada a você… Eu não acredito. Lembro-me bem das primeiras vezes que nos vimos. Você ali tão serelepe fazendo movimentos que eu mesma não conseguia acompanhar: Seus sorrisos, suas canções, seu jeito sincero de dizer as horas. Sim, de dizer as horas. Chegaram a existir vezes em que eu não precisava saber do horário, quase nunca os sigo, e eu te perguntava as horas só pra ver o seu sorriso no final de cada minuto. Seus cabelos loiros me deixavam hipnotizada a cada passada de escova bem ali, naquele banheiro feminino daquele bar… Eu suspirava. Suspirava, apenas. Não sei se era admiração, não sei se era paixão, mas eu suspirava. E era bonito, era diferente.

E então passamos a nos encontrar com mais freqüência. Era novo, sabe? Tudo novo. Aquelas idéias que eu não suportava, aquelas textos que você me dizia e que pareciam meticulosamente ensaiados só pra me impressionar. Todos eles funcionaram perfeitamente. O movimento dos seus lábios enquanto você falava que precisava estudar, que tudo estava atingindo um nível de dificuldade que você não podia mais acompanhar. Você reclamando do seu namoradinho que só queria o seu corpo… Eu sempre acreditei em você, amor, eu sempre acreditei. E acredito. Mas naquela época eu não sabia quem você era, eu só queria estar com você a todo tempo e a todo custo. E acho que me custou caro, mas eu não me importo. E teve até aquela vez em que aquela minha outra namorada me ligou num desses dias lindos que passávamos juntas. Eu não atendi. Vi que você estava linda e concentrando-se em alguma coisa qualquer, sabe? Lendo seu jornal diário, eu acho. Eu ficava ali parada do seu lado, vendo sua cara de mulher inteligente lendo todas as colunas de moda, política, religião. Religião. Eu nunca entendi o motivo das suas leituras sobre religião, mas eu também nunca contestei. Você devia saber o que estava fazendo. É. Meu celular tocava uma, duas, três, dez vezes e eu não atendia simplesmente porque eu estava com você e não queria dar lugar a mulheres do meu passado. Era toda sua. Acho que era amor e eu nem tinha percebido ainda.

Eu tinha uma entrevista naquele dia. Havia me preparado toda e estava consideravelmente bonita, ouso dizer, para me apresentar no novo emprego. Pensava no que diria, em como me portaria perante os meus novos chefes, meus novos companheiros de trabalho e o meu celular tocou: Teu nome escrito na tela.

“Alô.”

“Quer passar a noite comigo?”

“Sim.”

“E o dia?”

“Também”.

Nem pensei duas vezes. E você deve se lembrar bem daqueles nossos gritos no banheiro, na cama, na sala, no tapete. Eu lembro bem dos seus cabelos contra o meu rosto, do seu corpo contra o meu corpo… Era bom demais. Eu te sentia dentro de mim como nunca havia sentido nenhuma outra mulher antes. De maneira indescritível, você me fazia sentir cada vez mais mulher.

E agora você me faz me sentir tão estupidamente sozinha que eu não sei como reagir. Minha cama fica vazia mesmo com outras dormindo ao meu lado, meu corpo se sente violentado ao sentir a língua de outras mulheres deslizando pelos caminhos que a tua língua deixou… É complicado. Complicado demais, eu diria. E fico aqui relembrando fantasmas, revendo velhos amores, polindo velhos amores… Mas meu coração é somente seu. Você é a mulher que me faz sentir cada vez mais feminina, e cada vez mais feliz.

E esse seu silêncio me faz perder a noção de mim e sair por aí trocando amores, transas, copos de cervejas e noites de juras de cumplicidade momentâneas com qualquer outra mulher que eu imagino que possa te substituir. Dentre essas, me prendi a um fantasma do passado que pensei poder me tirar de você. E foi uma noite de muitos gemidos, muitas promessas de paixão loucas e desenfreadas ao pé do ouvido… Mas eu não poderia mentir pra mim mesma, mesmo que você consiga fazê-lo tão bem. Não é da minha natureza, nunca foi. E então eu saí daquele quarto com toda a convicção de que nós podemos jogar o mesmo jogo, as duas, sem nunca errar e sem nunca desistir. Meus cabelos perdem a cor, meu sorriso já se amarela, e eu ando cabisbaixa por aí esperando você voltar, ou uma mulher qualquer me prender do jeito que você fez.

Meus velhos métodos contra a dor já não funcionam mais, meus velhos heróis já não pensam mais, meus cabelos morenos já não tem a mesma cor que contrasta com o seu loiro… E enquanto isso durar eu fico aqui tomando pequenas pílulas de felicidade na esperança de te esquecer ou de você voltar. Veremos, menina, até onde agüentaremos nos traindo dia após dia nessa solidão. Tenha seus fantasmas, tenha suas fantasias, tenha suas noites. Eu vou estar aqui quando você voltar, ou te esquecer .

Quem é você agora?

domingo, 22 de maio de 2011

At work.

domingo, 8 de maio de 2011

Pequena.

"Já são longos anos que nos conhecemos. Lembro-me bem daquele último olhar que você me lançou, pouco antes d'a gente ir embora daquele lugar, lembra? Aquele lugar em que a gente deu nosso primeiro...amasso. É. Não tenho vergonha de lembrar, sinto até um tesão em lembrar disso, seus movimentos meio trêmulos, passando as mãos pelo meu corpo cansado do trabalho...Nem frio eu tava sentindo mais. Foi bom demais, menina...foi bom demais. Lembro que você viajou logo na manhã seguinte, e eu nem pude me despedir direito de você. Ia te buscar na escola, p'ra gente tomar um sorvete, jogar conversa fora...Mas naquele dia você não foi à aula. E foi embora sem me dizer tchau. Aquela mensagem que eu recebi no celular depois...Foi sua. Eu lembro bem, tinha lá a data e o horário. Tudo bem, eu sorri. Admito que senti um pouco de raiva de você, por não vir se despedir direito de mim. Mas tudo bem, esse tipo de coisa acontece. Passei dias pensando em você, pensando no dia em que você voltaria, p'ra gente vir aqui em casa e virar tudo de pernas pro ar. Você dizia que queria, que um dia viria, que se arrumaria toda p'ra gente sambar. E a gente só se falava por cartas. Você dizia que o mundo daí parecia muito mais colorido, muito mais convidativo, que iria se dedicar aos estudos. Dizia também que voltava logo, que amava quando a gente viajava por aí, sem rumo, sem documento, sem hora pra voltar...Era bom mesmo, né? E eu sorria, eu acreditava em tudo que você dizia. E admito, menina, que fiquei sentido quando você disse que ficaria um pouco mais aí, longe de mim. Não podia dizer nada, não queria dizer nada, só queria que você viesse logo ser minha, de novo. Engraçado é que desde então, eu comecei a ver tudo como uma despedida: Seu sorriso, seu andar, seu rebolado, seu beijo. Até aquele jeito estranho que você tem de coçar a cara eu sentia saudades, mesmo ainda presenciando o momento. Será que era pressentimento? Sei lá, mas era uma coisa louca que acontecia comigo, quase um medo de te perder, sabe? Você sempre me dizia pra relaxar, então eu ficava bem. Mas um tempo depois você começou a ser estranha. Não escrevia mais, não ligava mais. Só mandava aquelas fotos sorrindo, em algum lugar. E teve até aquela vez em que eu pensei, ah pensei mesmo, em ir atrás de você. Me controlei...Aliás, me controlaram. Porque eu, por mim mesmo, iria atrás de você aonde quer que fosse. E de uns tempos pra cá você vem me esquecendo, dizendo que ama, que pensa em nós dois...Mas cadê você aqui? É uma espera eterna até que você volte, e enquanto você não volta eu sou obrigado a me enganar. Sinto sua falta sim. Vejo outras mulheres e até penso em te trair, pequena. Mas a vontade de te ver chegar pela porta do aeroporto, te beijar e te abraçar é tão maior, mas tão maior, que todas as outras mulheres parecem descartáveis. E isso é bonito. Mas pequena...Quem é esse do seu lado? Algum amigo daí? Rapaz bonito, mas não tão bonito quanto você. Você é mulher, ele é homem...eu me preocupo. Suas cartas já não vem com tanto entusiasmo...Acontece alguma coisa? Não sei, mas você diz que me ama, que pensa em nós dois...então eu estou bem. Noite passada passei num bar com uma velha amiga, Pequena. Acho que você deve saber, porque eu gosto mesmo de você, queria que você soubesse cada passo meu, mesmo que você não tenha tempo pra me escrever de volta.
Você tem tantos amigos aí, que eu acho que esquece de mim. Mas tudo bem...tudo bem...Eu entendo que você esteja sozinha e que precise de companhia. Mas e essa foto nova com o mesmo rapaz? Isso aqui é uma festa? E esse sorriso grande no rosto? É por causa dele? Ora, Pequena...Eu não queria me incomodar com esse tipo de coisa. Mas me diz logo se você estiver com outro, que aqui do outro lado eu me viro pra não sofrer. E nessa carta? Não sei o nome do sujeito, mas sei da vida do sujeito que vive agora com você aí, te fazendo companhia. Não quero saber dele, mocinha, e sim de você. Você não fala mais de você...Você vive num vai-vem danado com esse moço aí...Parece até que esqueceu de mim aqui. Mas sabe, eu ainda quero te encontrar de novo, nem que seja só pra um sorvete. Ah! Lembrei da vez que a gente foi ao cinema logo depois da sua aula...Tarde gostosa e cheia de travessuras aquela! Fico todo arrepiado só de lembrar aquela sala vazia, só com a gente brincando de se conhecer no banco do fundo do cinema...Que gostoso. Volta logo, que é pra gente voltar a ser feliz juntos.
Faz tempo que não recebo cartas suas, menina. Por onde andas? Com quem andas? O que fazes? Preciso te confessar uma coisa, menina...Olha: Numa dessas bebedeiras minhas, sem compromisso, sem hora pra acabar, eu acabei me deitando com uma dessas mulheres difíceis de se lidar. Difícil mesmo, eu até choro em te escrever isso. Não quero mesmo que você chore, não quero te ver chorar, Pequena. Seu corpo me faz falta. Não vou abrir esse envelope. Não quero ver sua foto com outra pessoa, não aguento mais viver assim. Era tão bom quando éramos só nós dois menina...Quando era só eu, você e as nossas idéias. Apesar de você dizer que não, acho que nos perdemos no meio do caminho. Sinto sua falta aqui. Queria você aqui do meu lado de novo, queria poder te buscar na escola de novo, queria transar com você a noite inteira como fazíamos e sorríamos. Queria ouvir contigo aquele disco que prometi que ouviríamos juntos, bebendo vinho...Queria ver você dançando de novo, só pra mim. Queria ver seu sorriso de novo...
Admito, menina, que não abro mais tuas cartas. O que sentíamos um pelo outro esfriou...Não consigo mais. Sei que existem outros...e se é assim, menina, que seja só você e eles. Não quero interferir...Prefiro acreditar que você um dia vai voltar, e que vai ser sempre a minha menina. Só minha. Enquanto isso, eu fico aqui esperando você voltar, com uma certeza chata de que você não vem tão cedo, e que quando vier, não vai ser mais aquela menina que eu gostava tanto, e que me ensinava a compartilhar. Te desejo toda felicidade do mundo, menina. Essa que você tira de mim aos poucos dizendo que me ama e me deixando sozinho aqui no meu quarto. Beijo grande, Pequena"

sábado, 7 de maio de 2011

Don't Panic

Passa das seis horas da tarde nessa cidade, e nas cidades vizinhas, e em algumas cidades do planeta. Muita gente pensa na cama, no banho, nos namorados, nas namoradas, e com aquele rapaz não poderia ser tão diferente assim. Ele pensava num jeito de acabar com aquele sentimento de vazio, de solidão, num jeito de resolver a prova amanhã...Num jeito de escapar de si mesmo. O barulho ao redor já não era mais tão alto. Muita gente, muita gente mesmo pensando ao mesmo tempo, e só o tilintar dos trilhos do trem chegando, o cheiro de vários perfumes juntos. Uma cidade como outra qualquer, mas com essa magia de ser a cidade dele.
O vagão chegou, e logo aquele ritual se repetiu: Passageiros saem, passageiros sobem, e aquele rapaz faz parte da massa, da grande massa com seus fones de ouvido. A namorada estava a milhas dali (ou pelo menos quem ele dizia ser namorada. Nunca se sabe). O som do trilho era quase invisível, as pessoas eram silenciosas, todas olhando pro chão do trem, ou pra qualquer pensamento advindo do além. A viagem p'ra casa todos os dias nesse mesmo vagão do metrô, nessa mesma posição, olhando as velhinhas e os homens atarefados em seus ternos ocupando os assentos do trem. Mas não tinha muita importância, os fones de ouvido abafavam qualquer contato que ele tinha com o mundo exterior...Mas não esse:
E eis que ele sente o leve roçar. Era ela. O vestido, os óculos, o jeito que se apoiava nele, por cansaço, sono ou qualquer outro motivo que fosse. E ela se aproximava cada vez mais, e fazia-se mais presente que todos os estranhos que estavam em pé ali, quase que mecanicamente. O rosto não era muito visível, mas os lábios pareciam revestidos com um batom leve, rosa, vermelho, não sei, e os lábios estavam claramente umedecidos. Ela bocejou e num misto de inocência e cansaço, apoiou-se no peito rapaz. E o trem parava nas estações, e eles eram cada vez mais íntimos, e a respiração dos dois já se sincronizava. Ele ouvia a música, sentia os seios macios apertando contra o peito...Fechou os olhos e bocejou. Ela dormia um sono agitado, perdida entre a queda e o apoio no corpo dele. Ouvia o coração do garoto batendo, tranquilo, e já se conheciam suficientemente bem para entrelaçar as mãos. E assim se fez.
O trem já não estava mais tão cheio, e os dois ficaram ali: Mãos dadas, os fones no ouvido dele, o cabelo dela exalando um cheiro gostoso de natureza. Ela perdida entre o sono, a dúvida se já é hora de descer e as mãos entrelaçadas. O trem anunciava a próxima estação como última, e o vagão já estava vazio. Assentos vagos, a cidade lá fora cheia de luzes, de carros, de pessoas circulando pelas ruas... E esse vagão do metrô.
E tudo isso será eterno, até a próxima estação.
Lentamente, o trem pára. Eles ficam mais um pouco abraçados ali, sem dizer uma palavra, com as mãos entrelaçadas. As duas últimas respiradas, o cansaço dele, a insegurança dela. Um leve aperto na mão do rapaz, um último abraço. O bocejo. O ir embora sem olhar pra trás, o olhar dele no relógio.
Os dois seguem caminhos opostos, e deixam naquele vagão um diálogo que será esquecido enquanto ele sobe as escadas rolantes, enquanto ela atravessa a rua e arruma de leve o cabelo bagunçado.
A noite continua, a cidade canta, o metrô refaz a viagem.



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Inflation

Acordou como se nunca tivesse acordado antes. Lembrou da noite anterior como se nunca tivesse tido uma noite tão memorável quanto aquela. Dirigiu-se até o chuveiro. Abriu, e sentiu a água caindo como se nunca tivesse sentido a água quente, logo pela manhã, acariciando-lhe o rosto. Sorriu.
Os cabelos loiros caindo pelo corpo, e ela dançava uma melodia imaginária como se nunca tivesse se sentido feliz. O corpo branco, libertando-se com aquela fumaça que tomava conta do banheiro. Ela espirrou como se nunca tivesse sido curada antes. O dia começava, e começava bem. Os olhos castanhos vislumbravam a cama ainda desarrumada, e ela sorria um sorriso leve enquanto caminhava até o guarda-roupas. Vestimenta simples, creme no corpo, um abrir de janelas:

- Bom dia, Amor.

E ela amou como se nunca tivesse chorado antes.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Doce.

lol

domingo, 3 de abril de 2011

E no fim, eu te amo.

é difícil considerar alguém
e não saber quando esse alguém tá triste
ou tá feliz
ou com frio, com calor.
não saber se esse alguém te considera de volta, do mesmo jeito.
é complicado quando você ouve umas palavras que sabe que são verdades
(daquelas verdades que você lê nos olhos da pessoa)
mas pouco depois você desacredita.
é difícil quando você...sabe...
tem a chave do mundo daquela pessoa, e sabe que dentro dele tem tudo que você precisa.
mas quando você abre, não tem nada.
(mas você sabe que o mundo continua ali)
resumidamente: é complicado quando quem se quer é tudo e nada ao mesmo tempo.
eu teria mil palavras, mas tem dias que um silêncio basta.
que a agonia da dúvida é melhor que a dor da certeza.
tem coisas que não deveriam ser ditas.


Velho.

- Eu sou um velho mal humorado, que já acorda xingando todo mundo.

- Eu queria mesmo consumir um açaí agora com você.

- Mas por quê? Eu sou um velho que já acorda mal humorado pra caralho, que quer te xingar assim que te vir.

- Mas eu gosto de você.

- Tanto faz.
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- Eu sei que você chora ouvindo essa música.
- que música?



- Essa banda é tipo uma coisa que você nunca deveria ter me mostrado.
- Por quê?
- Porque eu choro lembrando de você.
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Chorar por pessoas lembrando de músicas é algo extremamente...humano.
Chorar por pessoas é algo extremamente...humano.
Chorar.

Não. Aí não.


sexta-feira, 11 de março de 2011

Paraíso.

Bem, não é bem como eu imaginava ser, nem como todos dizem por aí. Na verdade, o paraíso é um misto desse inferno terreno que estamos todos acostumados a presenciar. Misto de verdade, mitologia, algumas cervejas, cigarros, qualquer outra substância que te transporte até outro plano.
E então... Eu já imaginava que você faria isso, pequena. Eu já imaginava que um dia tudo isso acabaria desse jeito, com qualquer contato físico próximo, desses de uma noite só, que a gente sabe que não deveria fazer. Eu mesmo já o fiz, já me arrependi, mas tudo continua na mesma. O difícil é acreditar sempre que a gente não vai mais fazer, que tudo foi passageiro, que as coisas vão melhorar...Mas é. É como é.
Eu sei que parece confuso, mas faz muito sentido.

Quantas noites pode uma alma tão cheia de vida permanecer intocada?
Acho que você agora sabe a resposta.


domingo, 6 de março de 2011

Oh it's a trip.

excesso de inspiração momentânea.
é tudo muito normal, tudo muito simplório.
A vontade de voltar é quase nula, espero realmente que isso dure pra sempre.
Mas não vai durar.
Daqui a pouco todos estaremos bem, e bem esqueceremos de tudo que passou.
No fim, foi só um sonho mal sonhado, meio que por um misto de tristeza, alegria e fumaça.
Amanheceu, é hora de partir.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Almoço

Engraçado como todas essas coisas que você me deu, essas coisas que você me dá, não cabem mais nesse quarto minúsculo que eu moro. Mas mesmo assim eu ainda fico até que feliz por não ter tanto espaço pra dormir, mas por ter todas essas lembranças suas aqui.
Mas as lembranças não te substituem.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

com um N só.

tudo muito bonito, muito completo pra estar certo. O fato é que faz tempo, um bom tempo que eu já me basto, e não me importo muito com eventuais decepções, ou até mesmo com rotineiros desencontros, desses que a gente suporta com os olhos almejados de lágrimas. Tanto Faz. Eu poderia escrever isso enquanto tomo café numa rua qualquer, com o mesmo entusiasmo que expresso ao assistir à programação tediosa do domingo. Mas não, prefiro ir direto ao ponto, que é onde mais temos dificuldade em chegar, amor:
Deixo tudo pra mais tarde, admito. Mas não por comodidade, mas p'ra não me machucar muito, sabe? Acredito que um dia você reconheça, assim como eu, que isso que você chama de vida não pode dar certo enquanto tudo permanecer assim, intocado, incompleto, na mais completa ilusão de perfeito.
O fato é que eu me sinto tão impotente, tão destruído, que apenas concordar com as suas palavras vãs e não esperar mais nada de você é tudo que eu posso fazer agora. Um sorriso falso que antes eu não sabia sorrir é tudo que se enxerga e...agora até parece que tudo vai mudar assim, ou fazer sentido de uma hora pra outra.
Por outro lado, você me ensinou a me bastar. Não preciso mais do abraço de alguém, nem preciso mais do toque suave dessa de cabelos dourados que tanto me apeteceu a alguns dias atrás. Preciso de mim mesmo, de algumas ligações, do café, da música, até de um pouco da alienação da TV. E isso basta.
Confesso que tudo seria tão mais fácil se você tivesse aqui, tudo seria tão mais interessante se você mesma visse o vazio que carrega nas palavras...Mas isso já chegou num nível tão exagerado de utopia que eu não me incomodo mais. Vou sentar aqui, olhar as horas no relógio de bolso e esperar que algo aconteça.
Enquanto algo não acontece, vou levando assim, porque você bem sabes que não me é suficiente e que eu preciso mais de mim mesmo do que de você.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Chão.

E quando não tem ninguém aqui, a gente simplesmente deita nessa cama vazia e chora.





Engraçado como eu ia escrever um texto, mas o estado de espírito é tão indefinido que nem isso eu consigo mais fazer.