sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Forma Feminina e Italiana de João.

Foi da forma mais complexa e diferente que se conheceram. Ele já sem muitos motivos pra continuar vivendo depois de tanta porrada nas costas, ela exaltada e cheia de vida ainda naqueles olhos castanhos claros que a princípio não despertaram interesse algum. A princípio. Tanta discórdia, tanta violência e dali a algum tempo já não se violentavam mais, nem com palavras e nem com atos, mas também não era algo assim tão belo. Tenho minhas dúvidas se um dia já foi algo assim, belo, cheio dessas frescuras e...diferenças. Mas são essas diferenças que acabam fazendo tudo ser bonito como é, ou como já foi, não me lembro bem.
E aí tiveram alguns entendimentos carnais, se é que me entendem, e ainda tiveram alguns desentendimentos verbais, na maioria pelos motivos mais fúteis. Tá certo sim, que ela é uma mulher muito linda, muito cheia de si e muito "cabeça no lugar", mas é de um egocentrismo fora do comum. Ele já não é tão sério assim, Não. Ele nunca foi sério desse jeito, e ele nunca ligou muito pra si mesmo, tanto é que já deu a cara a tapa inúmeras vezes só pra ver alguém feliz. (Teoricamente feliz). Já tomou no cu diversas vezes e graças a ela (mas não somente a ela, devo salientar aqui) conseguiu sair do fundo do poço. Tá certo que depois de algum tempo a relação de posse, do ponto de vista dele, e de reciprocidade, do ponto de vista dela, deixou tudo meio bagunçado.
Meio bagunçado assim, no aspecto mais informal de dizer, porque ela era mesmo muito possessiva, e ele era mesmo muito bobão, cabeça dura e babaquinha, sabe? Mas era só a forma mais feliz de ser. Os dois eram muito bons juntos, gostava de vê-los. AH, ainda tão juntos? Minha nossa.
De tempos em tempos ele apresentava alguma coisa nova pra ela (algo que julgava importante, ou que apenas gostava e queria compartilhar) e ela simplesmente retrucava com um "Não vou gostar disso. Você só gosta de mim se eu gostar disso?"
No fundo, bem lá no fundo, ele ficava irritado com isso. Era só algo que ele precisava compartilhar com alguém que gostasse...bem. Só isso mesmo. Nada de mais.
Intrigante, na cabeça do menino, que ele tinha que pensar duas vezes antes de falar qualquer coisa pra ela, e ela era justamente a pessoa que ele achava que podia falar qualquer coisa.
Cada vez mais ela se enchia de si, e de seus lapsos de personalidade (ou egocentrismo, se quiserem chamar assim) e dizia que "não preciso ser assim pra você gostar de mim" ou "não vou mudar por sua causa" ou até mesmo "não vou ser cult assim só porque você quer".
Ele nunca disse nada, coitado. Sempre cabisbaixo ali, na dele, escutando as músicas que sempre gostou, vendo os filmes que sempre gostou...Ah, e nem isso eles faziam juntos direito.
Ela não gostava dos mesmos filmes que ele, por algum motivo, e muitas das vezes ele ouviu um "assista sozinho. Não vou assistir".
Daí a um tempo começou a não incomodar, sabe? E ele passou a compartilhar as coisas com outras pessoas, outras mulheres. Não tão lindas como ela, a primeira, mas que demonstravam um pouco mais de interesse pelas coisas que ele gostava, e que sentissem prazer em ouvir as coisas que ele ouvia, e que apresentassem-no coisas novas também.
Não foi culpa dela, não foi culpa dele, mas pelo simples fator da compatibilidade, ele simplesmente a deixou.