quarta-feira, 20 de março de 2013

O furacão na loja de penhores.

- Aí eu falei que não, né? Porra nenhuma. O cara não me respeita...
- Mas isso antes ou depois da...

- Olá. 


As duas olham pro cara que acabara de entrar. Aspecto meio idoso, com aquele chapéu verde, o olhar perdido e o cheiro de cigarro impregnado no corpo. 
- Como podemos te ajudar, senhor? - uma das mocinhas atrás do balcão pergunta, olhando-o dos pés à cabeça, sabendo que ele não poderia saber onde estava.
- Onde eu estou?

Elas se encaram, como quem já sabe exatamente como proceder. Mas com ele seria diferente. Das outras vezes que isso ocorreu, preferiram conscientizar as pessoas o quanto antes. Mas com esse cara não. Talvez fosse melhor dar uma brincada, talvez fosse melhor deixá-lo descobrir sozinho exatamente onde estava e por que estava. Mas em todo caso, ficaram caladas.
- Isso aqui é o café ao lado do paraíso, senhor. Como podemos ajudá-lo? Está servido de um café?

- Posso usar o telefone?
- Mas pra quem o Senhor quer ligar?

Raras as  vezes em que nos falha a memória e que tudo que há no bolso é aquele box com dois filtros vermelhos e um frasco conta-gotas.
Talvez o paraíso fosse mesmo ao lado.


Ele sorri, tira do bolso aquele frasco.
- Estou servido do café.-tosse- e faço questão de companhias...



segunda-feira, 18 de março de 2013

The beggining of the end


I need to live outside of my head

Pensa todos os dias antes de dormir, com pouca idade e alguns problemas.
Abusa das amiguinhas na escola, tira algumas fotos e publica em algumas redes sociais.
Tem uma vida animada.
Faz coisas e não conta pra ninguém.
Esconde informações valiosas debaixo dos olhos claros.
Usa drogas diversas.
Precisa parar com isso, antes de ficar louca.



Mas como assim, né?

The heaven and the sex shop

 - mas quando foi que isso começou? -

E permaneceu quieto, atônito no meio daquele ambiente verde, úmido, com árvores bastante altas e um som escondido por entre as nuvens. Coisa linda de se ver.
Mas aí ele olha pro lado, pro outro, e fica se perguntando quando, como e por que havia chegado ali. Sem sucesso. O tubo de sonhos estava intacto.Ele desacreditou.
Pensou coisas e coisas, se perguntando como seria possível. Vez pós vez, dia após dia vagando pela floresta sem a menor ideia do que poderia estar acontecendo. De verdade. O dia não virava noite, as nuvens não se moviam. Ele não sabia. Não precisava saber.

Ao longe, a grade. Apenas uma grade, enorme, que separava por um letreiro escrito à mão:
"paraíso".

Sem consciência, separado do aqui e do paraíso por uma grade.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Pawn Shop

- Olha, isso aqui não tem valor nenhum pra mim.
- Mas eu preciso do dinheiro, moço. Preciso muito.
- Da próxima vez, traga algo de valor.

Aquele silêncio hostil então se faz bastante presente naquela salinha pequena, com cheiro de cigarro e remédio pra dormir. Mais uma vez uma moça decepcionada sai daquela sala carregando uma tralha qualquer que pretendia trocar por dinheiro, ou por dignidade, nunca se sabe ao certo das intenções das pessoas nessas situações. Mas poderia ser eu, ou poderia ser você, dependendo do dia.

E aí, àquela hora do dia chega o cara menos bem-vindo de todos. Uma aparência jovem, porém bastante desgastada pelo tempo, ou pelas horas sem dormir, pelo excesso de cigarro e pensamentos obsessivos numa cabeça perturbada. Talvez fosse um gênio dessa nova geração, talvez fosse só mais um desses malucos que vendem a alma por 20 mangos e compram uma cadeira na sessão das 18:00 pra um filme ridículo desses.

Ele entra e não diz nada.
Do lado de cá, o senhor olha dos pés à cabeça o ser que ali se apresentava, prestes a recusar toda e qualquer oferta que ele fizesse, só porque não foi muito com a cara do sujeito, ou até porque ele não tem nada pra oferecer mesmo.
- Bom dia.
- Bom dia. - o rapaz responde com a voz meio trêmula, meio muda.
- E aí?
O rapaz tira do bolso um frasco contendo um líquido transparente. Um frasco pequeno, desses que em qualquer farmácia se arruma facilmente. O frasco pela metade, os olhos esbugalhados dele e aquele comportamento de quem tá sem dormir a dias, quase se perdendo na própria mente. E não diz nada, esperando qualquer reação do senhor atrás da mesa.

- Que é isso?
- Alguns sonhos que eu peguei.
- Sonhos?
- Sim.

Silêncio.

E dadas as circunstâncias, a hora, e a cara do louco que oferece sonhos em troca de dinheiro, talvez fosse verdade. Talvez não.

- Quer quanto nisso?
- Quero trocar.
- Menos mal. E quer o quê?
- Quero aquele revólver ali.
-leva.

"menos mal. Eu não pagaria mesmo por isso."
- Bastante cuidado com esses sonhos, senhor. Até mais.

E o rapaz se dirigiu até a porta, e um barulho estrondoso ecoou pelo corredor. A cabeça já não existia mais, e as paredes brancas tomaram tonalidade vermelho-sangue.

Depois do susto, ele olha pro meio frasco de sonhos em cima da mesa, e faz dois desejos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Trecho apagado da Opera

"E como num dia chuvoso com raios de sol, o homem estava ali, parado, incrédulo com o telefone na mão esquerda e aquele cigarro na mão direita. Esperava porque esperava encontrá-la, nem que fosse pra trocar um mero olhar e depois ir embora por aí, como se nada tivesse acontecido.
 - Estou aqui. Estou te esperando aqui. Naquele lugar.

Do outro lado da linha ela sorria e chorava. Os cabelos vermelhos se perdiam no vento, que se perdia no rosto dele, que se perdia no passar dos minutos. Implorando fortemente para que ela não desligasse o telefone, e ela chorando o arrependimento antes mesmo do encontro virar realidade. Trocaram algumas palavras vagas, e do outro lado ela ouvia o coração aflito dele saltando de dentro do peito, enquanto o suor escorria pelo rosto e as palavras pela boca. - Eu só quero te ver. - Ele dizia.
E devo confessar que o encontro não aconteceu.
- estou exatamente aqui, meu rapaz. - E ela se perdia num misto de sorriso e soluço, sabendo que aquele sonho não aconteceria.
- Estou na frente da praia, estou olhando pro mar, estou esperando no lugar que você escolheu.

A ligação cai.

E como eu já vos alertei, essa não é uma história de amor. Conforme ela chegava perto do local, ele, aqui do outro lado, sentia o cheiro dela. Sentia através do vento aquele aroma adocicado, que em muitas outras ocasiões ele havia sentido. Algumas gotas caíram do céu, e o vento cortava o ar formando uma sinfonia que ele já ouviu, mas fez questão de esquecer.

O telefone toca de novo.

- eu só não queria te entristecer. Mas cheguei. Tô aqui.

E ele chorou pela segunda vez. Não pelo arrependimento, não pela saudade, não pelo amor, mas pela dor. A dor de estar no mesmo espaço que ela, e não poder vê-la.
Acontece o tempo todo por aí, devo comentar.
Há quem diga que fora daqui existam vários outros planos, e provavelmente foi mais ou menos isso que aconteceu. O rapaz não deixou de acreditar, não deixou de ouvi-la, mas a dor foi tal que, a partir daquele dia, ele nunca mais proferiu palavra alguma que se referisse a ela. Esqueceu os cabelos e os olhos vermelhos, esqueceu o celular na praia.  'Preciso acordar. Preciso parar com isso' como quem se convence de um estado de ilusão maior que a realidade. Mas a essa altura, não vou questionar o que é realidade e o que não é, até porque não nos importa mais.
Fiquei triste pelo rapaz, mas nada pude fazer na ocasião. Porém devo confessar que ela era uma ótima mulher. Foi uma pena"




Me perguntaram certa vez por que eu apaguei esse capítulo inteiro da Opera.
Apaguei porque não tem mais nada a ver. Porque eu quis.

quarta-feira, 13 de março de 2013

M4rch

Uma sensação terrível se apossou de mim, de tal forma que eu só consigo pensar em merda.

Que merda.