quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Puro.

Não era tarde, não era cedo. Era quase seis horas e eles não pensavam em dormir. Os olhos pequeninos dela, castanhos, de tal tonalidade que ele não pudesse lembrar dali a algum tempo. Taaaanto faz, uma hora esse tipo de relacionamento deixa tudo tão colorido, tão exorbitantemente cansativo que tanto faz se você goza, ou ela goza. Os dois precisam ir embora. Faz mais de duas horas que os movimentos repetitivos já não tem mais a mesma graça, só faz alguns cinco minutos que você se arrependeu de estar sentado lá naquela mesa com ela e depois levá-la pra dentro de si ou você pra dentro dela. Mesma coisa, cara. Mesma maldita coisa.

Até que finalmente ela goza, ou então simula qualquer coisa e tá tudo muito certo, tudo muito bem e um sorrisinho de agradecimento é tão bom que até chega a assustar.

Meia noite de hoje ele olhou no relógio e lembrou que tinha que comprar alguma coisa pra casa. Uma carteira de cigarros, talvez. Ela já não lembra bem pra que direção tem que ir, mas a rua tá molhada, os postes meio que balançam, piscam, mostram qualquer falta de interesse em iluminar a rua, ela anda cambaleando, arrumando os cabelos bagunçados agora depois de toda aquela festa. Cacete, não pode chover agora.

E aí ele chega em casa com um cigarrinho na boca, aquele olhar perdido ou cansado, não sei, e sorri novamente para a noiva. Tomara que ela não queira qualquer tipo de relação hoje, tô muito cansado, trabalhei de mais e nem ligo pra asma dela. Um beijo, aquela conversa enjoada de sempre, meio que um afago no filho dela que não era dele. Tudo bem normal.

Ela chega de novo naquele apartamento apertado. Cacete, precisamos nos livrar de todos esses livros velhos e desses discos. Vendê-los, talvez. Mas não agora, preciso comer alguma coisa ver a novela e dormir. Não, não vou dormir, vou ligar pra alguém. Não, não vou ligar pra ninguém. Vou ouvir música. Então ela meio que acende um cigarro, tira aquela roupa melada de homem, nem liga, ou não quer ligar pras olheiras do tamanho de duas uvas no meio da cara. Se olhou no espelho e não reconheceu aquelas novas marcas no pescoço.

Já passa das nove horas da manhã e ela acorda com um pulo, não, mentira, ela só abriu os olhos e viu que o celular tava vibrando descontroladamente em cima do criado-mudo.
Alô. Ah é? Tá bom. Que horas? mesmo hotel? Tá bom.

E mais uma vez o dia passa incrivelmente comum como todos os outros. Ele por baixo, ela por cima e os dois cumprindo a rotina. Um sorriso depois do gozo, e vamos embora sem nos despedir, não quero que minha esposa descubra.


Música:






Sabe, eu tô numa tão ruim que essa letra se encaixa perfeitamente em mim.
Seu Jorge é muito bom. Seu Jorge é tipo, minha vida no Samba e isso é tão poético que chega a ser extremamente gay, ridículo e babaca.

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